as vantagens de ser infinito

Saí da sessão de “As Vantagens de Ser Invisível” (ou no original, “The Perks of Being a Wallflower”) com o coração meio moído. Meu plano original era ter visto esse filme no meu último dia de Inglaterra, 3 de outubro, depois de ter passado um ano (e uns quebrados) explorando as terras do outro lado do oceano. Fui assistir hoje, exatamente um mês depois de ter entrado no avião.

Desde que cheguei, tenho tentado encontrar as palavras certas para definir o que foi o meu último ano e o quanto ele significou para mim. Por essas e outras, fiquei feliz de ter visto o filme só hoje. Se tivesse assistido naquela ocasião, acho que não teria chegado inteira, porque teria chorado todos os 70% de água do meu corpo. A resposta que eu buscava – pelo menos parcialmente – estava no filme o tempo todo.

As Vantagens… conta a história de Charlie (Percy Jackson Logan Lerman), o invisível do título, que passou por barras tremendas ainda muito jovem e cresceu sem amigos. A situação dele muda ao conhecer Sam (Hermione Granger Emma Watson) e Patrick (Ezra Miller), que transformam a vida dele no exato oposto das noites confusas e dolorosas que o aterrorizavam. Eles são exatamente o que Charlie precisava o tempo todo – e ponto final. (Na verdade, tudo é mais complicado na vida do Charlie, maaas vocês que assistam ao filme pra entender melhor. Um beijo) Em um dos momentos mais a-vida-é-linda do filme, o Charlie fala aquela frase que provavelmente você já viu por aí caso tenha um Tumblr e siga menininhas apaixonadas por garotos de cabelo escuro e olhos claros:

“And it that moment, I swear we were infinite.”

E eu entendi. Eu saquei tudo o que eu precisava falar sobre essa viagem. Eu entendi o filme.

Eu lembro de momentos em que me senti infinita. Eu lembro daquela noite em que estávamos eu e eles na minha casa, rindo e jogando conversa fora, tarde da madruga. De repente ele levanta e liga a lâmpada que projeta estrelas no teto e começa a brincar com as sombras, contando histórias. Todo mundo rindo de pijamas, e ele com aquela voz de Mufasa.

Eu lembro da vez em que estávamos os quatro em uma montanha russa. Era a maior de todas, a mais rápida, a mais intensa. Era uma das primeiras vezes que eu andava de montanha russa na vida (e já estava meio verde por causa das outras que vieram antes), mas naquele momento, ele virou pra mim e disse que o segredo era manter os olhos abertos o tempo todo, coisa que eu tinha evitado fazer por causa do medo. Daquela vez, eu abri os olhos o tempo inteiro. Era incrível. Xinguei à beça e em todas as línguas que eu conhecia, simplesmente saiu de mim, nem sei de onde. A gente gargalhou por horas depois disso.

Lembro da noite em que ela chorou do lado de fora da casa enquanto ele beijava outra do lado de dentro. Lembro de sentar no sofá e ouvir o maior segredo dele, e subitamente entender que estava todo mundo bêbado demais para analisar aquela noite friamente. Lembro da balada mais maluca da minha vida, e dos shows de dança que minha amiga dava.

Lembro de pisar na Escócia pela primeira vez, sozinha, e voltar para o hostel com um milhão de novos amigos. Lembro do ghost tour feito durante a noite, ouvindo lendas antigas e pisando em cemitérios que eu evitaria sequer passar na frente durante o dia. Lembro de pisar em ruas de pedra medievais na Bélgica e sentir vidas do passado respirando por baixo daquilo tudo. Lembro de ir pra Manchester e visitar a feira de natal mais bonita que ejá vi, ao lado de uma das pessoas mais maravilhosas que a vida empurrou pra mim, e que – acredito – deve  se sentir infinita umas seis vezes ao dia. Lembro de dançar Amanda Palmer no volume máximo dentro de casa e isso ser tudo o que eu fiz no dia.

Eu sei o que é se sentir infinito. É se sentir arte, se sentir universal. Se sentir gigante e misturado às estrelas. É se sentir feliz e livre – sem mas. Sem poréns. Sem até quês.

Quando eu voltei, achei que tinha perdido isso tudo. Pensei, sinceramente, que jamais me divertiria daquele jeito de novo, correndo o risco de ser ingrata e turrona. Eu sinceramente vivi tantos sonhos quanto pude imaginar nessa viagem. Cheguei à conclusão, com todo o coração e toda a cabeça, que as memórias um dia venceriam, e eu seria aquela pessoa de olhar apagado, que ia atormentar os outros com lembranças que não interessam a mais ninguém. A tia velha e maluca, parada no tempo, congelada em Liverpool que nem a bandeira do Divino Futebol Clube no último episódio da novela (sim, eu vi Avenida Brasil quando voltei. Adorei. Não perturbem)

Foi aí que eu me toquei sobre como estava sendo uma completa idiota.

Querer viver das lembranças não é apego ao passado – é mesquinho. É se privar de todas as coisas – sim, boas e ruins – que a vida tá louca para te oferecer, e a gente passa reto. É negar viver aventuras e experiências porque as memórias estão ali, mais quentinhas, confortáveis e obedientes. É viver um caso de amor com o passado, sendo que o passado já tá em outra. Viver de lembranças é esquecer de si mesmo.

Tudo isso foi lindo, foi mágico, e naquele instante, foi infinito e me fez infinita. Sim. Mas a vida é mais do que colecionar momentos infinitos; é buscar os próximos, ou pelo menos tentar fazê-los acontecer. É se sentir enlevado (palavra favorita) ou encantado (segunda palavra favorita!) e espalhar isso para quem a gente alcançar. É a minha sensação favorita, pelo menos.

Não sei se um dia a gente encontra um lugar no mundo. Talvez a graça seja se encontrar em vários lugares. Talvez a graça seja saber que em todos os lugares onde seu coração mora, você mora também.

Talvez a graça seja acenar o trem esperando pelo próximo encontro.

Por uma vida com mais vento no cabelo, monstros gigantes feitos de estrelas e novos momentos com as pessoas que amo e ainda vou amar um dia. Já tá mais que bom. =)

(Mas Logan Lerman, te juro, difícil engolir que você passa despercebido por aí.)

5 comentários a “as vantagens de ser infinito

  1. É possível se sentir infinito lendo textos inspiradores como esse também. Eu, que já me senti infinito inúmeras vezes, com um simples pôr do sol visto pelo retrovisor do carro, não tem como não me sentir infinito lendo isso.

    (Com certeza, essa foi a passagem mais linda do livro. E eu estou doida para ver o filme).

    :*

  2. Cláu linda escrevendo coisas maravilhosas. Parece que ser infinito não poderia ser melhor descrito do que como você fez. Chorei metade do meu corpo no filme e me emocionei de verdade com as suas embranças. Mas o melhor é ainda a conclusão; afinal, condenar a sensação de infinitude a um momento apenas é negar a sua característica de ‘sem-fim’.

  3. Assisti a esse filme ontem. Achei que de alguma maneira, seu post havia me preparado pra ele, mas não. É uma sensação estranha de ter participado daquilo tudo, em uma varanda qualquer de um colégio, em um encontro fantástico na faculdade. Ai. O filme é tão lindo que chega dói.

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