A Paixão segundo W.M.

Ele limpa a cara na manga, bagunça os cabelos, lambe os lábios. Grita fininho, briga grave, pula, duela, morre – até cospe. Ele limpa a cara na manga porque sua bastante. Seu? Não, não é. Não pode ser tudo seu. Tem que ter alguma coisa que é de fora. Toda a raiva, tanta raiva… e os olhos cheios de lágrima veneno, e a roupa cheia de zíperes. Zíper do submundo, da doença, do medo, do irracional tão lógico.

É mais que técnica. Tem que ser mais que técnica.

Ah, ele se arrisca. Anda na linha tênue com os tropeços dos malabaristas profissionais. Está tudo sob controle quando o controle é desprezível, e a amargura, cotidiano.

Ah, ele se arrisca. Podia ser Hamlet quietinho, esfregando as mãos e se lamentando num canto. Podia ser Hamlet heróico, só esperando uma oportunidade da vontade que só cresce. Mas foi Hamlet cômico, Hamlet trágico – muito dos dois. Meu Deus, como arrisca.

Tão moderno, tão atual. Tão mundo antigo. Queria eu sofrer assim, bem desse jeito. Não do outro, do cotidiano: esse, transcedental. Esse, poesia. Esse, só esse, com fins tão nobres. Só esse e mais nenhum. Thank God It’s Shakespeare.

(Não achei outro, então teve que ser esse. Bem bobo. Não ligo.)

6 comentários a “A Paixão segundo W.M.

  1. Vc não me manda um email, cláu, e vai ser o *teu* suor escorrendo pela *tua* cara lívida de pânico qdo eu for atrás de vc com a minha machadinha… ¬¬

    Dei me recado, agora comento:
    ohhh! *-* puscha, puscha, puscha! esse deu medo!

  2. Cláu, venho no desiluminância já há um tempinho e lembrei de você quando me deram um prêmio muito interessante e pediram para repassar, mesmo que eu não seja lá a maior fã dessas coisas.
    Enfim, qualquer coisa pega o selo lá no meu blog.

    Abraços 🙂

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